Como lidar com o stress e a sobrecarga
- Diana Luzio Alves
- 23 de out. de 2018
- 5 min de leitura
Atualizado: 27 de out. de 2018

Vou ensinar-vos 4 estratégias que poderão realizar hoje para permanecerem sãos, felizes e com menos stress ao longo do vosso dia.
Em primeiro lugar, quero explicar-vos que o ato de cuidar desenvolve sentimentos positivos e negativos no dia-a-dia. Positivos como o sentimento de dever cumprido, a satisfação e a reciprocidade, e sentimentos negativos como conflitos familiares, insegurança na prestação de cuidados, sentimento de injustiça e sobrecarga. Neste artigo vou falar-vos acerca da sobrecarga, ou burden.
Em termos técnicos, a sobrecarga é uma síndrome caracterizada por um conjunto de sinais e sintomas, que podem ser físicos, emocionais, sociais, profissionais e financeiros. Se sente pelo menos um destes sinais e o seu início ocorreu durante a sua atividade de prestação de cuidados a uma pessoa dependente, pode estar com a síndrome de sobrecarga: ansiedade, apatia, baixa autoestima, depressão, irritabilidade, distúrbios do sono, cansaço, gastrite, hipertensão e outras patologias cardiovasculares, insónias, isolamento (isto é, passa menos tempo com familiares e amigos do que antes), falta de tempo livre para estar com familiares e amigos, desinteresse profissional, absentismo (isto é, necessidade de faltar com regularidade ao trabalho ou necessidade de reorganizar o orçamento familiar).
Enfim, os sinais e sintomas são diversos, afetam uma grande percentagem dos cuidadores, principalmente os cuidadores de pessoas com demência, e é fácil compreender porque deve ser prevenida e minimizada. Além do declínio da qualidade de vida, o aparecimento de problemas de saúde ou até patologias, o aumento de gastos devido a, pelo menos, o consumo aumentado de fármacos e o comprometimento da qualidade dos cuidados que são prestados.
A síndrome de sobrecarga pode surgir tanto a cuidadores familiares como formais e, normalmente, o nível de sobrecarga é tanto maior quanto o grau de dependência do idoso de quem se cuida.
Depois desta introdução técnica, o cuidador deve estar a questionar-me: “há forma de prevenir e minimizar a sobrecarga?”.

Sim, há e eu vou transmitir-vos 4 estratégias que vos irão ajudar a reduzir ao máximo os vossos níveis de sobrecarga emocional ou, quem ainda não desenvolveu nenhum dos sintomas indicados, a prevenir:

Estabeleça objetivos realistas
Por vezes um cuidador precisa de realizar a higiene do paciente, realizar atividades de estimulação, ir ao supermercado, fazer e dar o almoço, arrumar a cozinha, tratar da roupa, passear com o paciente, preparar o lanche, ir a uma consulta, e não fosse pouco, ainda gerir a recusa do paciente em alimentar-se, em tomar banho, em bochechar no final da lavagem dos dentes, procurar a escova do cabelo ou outros itens que possam estar fora do sítio (entenda-se, escondidos), permitir que o paciente seja o mais independente possível e que realize ele próprio todas as tarefas que conseguir, na sua velocidade.
Isto, sem referir os desafios dos cuidadores sanduíche, que cuidam de duas gerações diferentes, o pai ou a mãe e os filhos!...
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Gerir a rotina de um prestador de cuidados não é um desafio simples, mas facilita se estabelecer objetivos mensais, semanais e diários, e se se organizar nesse sentido. Certifique-se que os seus objetivos são realistas e não a oprimem.
Faça uma lista de todas as atividades que compreendem a sua rotina, elimine as que podem ser eliminadas e de seguida organize-as de acordo os objetivos temporais:
- Mensais, como realizar o planeamento de atividades (p.e. consultas), pagamento de contas, rever eventos relevantes que vão acontecer ao longo do mês;
- Semanais, como tratamento de roupa, higiene completa, ir ao supermercado; e
- Diários, como lavar a loiça, organizar o quarto.
Por fim, enumere as tarefas que poderiam ser outras pessoas a realizar por si, identifique algumas pessoas do seu círculo de contactos mais próximo e peça-lhes que a substituam de vez em quando. Desta forma poderá encontrar tempo para realizar algumas atividades sem deixar o seu paciente sozinho e assim irá conseguir distrair-se, relaxar e recarregar baterias.
Além disso... todos nós somos humanos e não robôs. Precisamos de conhecer os nossos timings, respeitar o tempo médio que precisamos para cada tarefa e a velocidade do paciente.

Mantenha-se saudável e positivo
Determine caminhadas após o jantar, sessões de Yoga ou Pilates, aulas em grupo de trabalhos manuais, ou outras atividades dentro do seu gosto. Dedicar algum tempo para dedicar só a si e à sua saúde não é fácil, porém é uma necessidade fundamental!
Analise qual o horário mais tranquilo para si, ou que pode ficar alguém em casa. Há sempre alguém que pode dar uma mão, seja ele familiar, vizinho ou amigo, e adaptem os vossos horários de forma a que se consigam conciliar. Atualmente também existem alguns produtos de segurança para pessoas com demência com ligação à rede, que lhe enviarão um sinal de alerta para o telemóvel caso seja necessário que volte rapidamente a casa.
Além das sugestões dadas, é também recomendado tirar uns minutos do seu dia para simplesmente agradecer. São vários os estudos que demonstram os benefícios da gratidão e aqui pode encontrar um artigo que explora este tema.

Aprenda a aceitar os seus sentimentos
Cuidar pode levantar todo o tipo de sentimentos, inclusivamente negativos. Reflita sobre este tipo de sentimentos e aprenda a aceitá-los.
Como expliquei no início deste artigo, cuidar, quer de um familiar idoso, quer de clientes idosos no caso de ser cuidadora formal, desenvolve sentimentos positivos e negativos no dia-a-dia. Este processo faz parte da prestação de cuidados e não deverá sentir-se culpada por isso. Deve, no entanto, refletir sobre os sentimentos, aceitá-los e analisar o que poderá ter estado na sua origem, como os poderá digerir melhor e como gerir as situações que estiveram na sua raiz para que no futuro não se repitam.

Confie noutra pessoa
Nem sempre é fácil, mas é importante aprender a confiar em alguém. Desenvolver relacionamentos fora da relação cuidador-paciente ajuda a prevenir o isolamento e a gerir o stress. Esqueça por uns momentos assuntos que a preocupam, divirta-se, peça para acompanharem o paciente na sua ausência, ou desabafe. O relacionamento social é essencial para a saúde e o bem-estar de qualquer pessoa.
- o artigo continua abaixo das Referências bibliográficas -
Referências bibliográficas:
- Borba, L. O., Schwartz, E., & Kantorski, L. P. (2008). A sobrecarga da família que convive com a realidade do transtorno mental. Acta Paulista de Enfermagem, 21(4), 588-594.
- Brandão FSR, Souza BC, Rego ZC, Bezerra M, Alencar LCA, Leal MCC. (2017). Sobrecarga dos cuidadores idosos assistidos por um serviço de atenção domiciliar. Rev Enferm UFPE, 11(1), 272-9.
- Gratão ACM, Vendrúscolo TRP, Talmelli LFDS, Figueiredo LC, Santos JLF, Rodrigues RAP. (2012). Sobrecarga e desconforto emocional em cuidadores de idosos. Texto & Contexto Enferm, 21(2), 304-12.
- Yamashita CH, Amendola F, Gaspar JC, Alvarenga MRM, Oliveira MAC. (2013). Associação entre o apoio social e o perfil de cuidadores familiares de pacientes com incapacidades e dependência. Rev Esc Enferm USP, 47(6), 1359-66.
Gosto bastante de ouvir o que têm para me dizer.
Das estratégias que partilhei consigo, com qual se identificou mais? Mais importante, o que poderá fazer para transformar essa estratégia em ação, agora?
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