Estimulação cognitiva na demência... Vale mesmo apenas estimular?
- Diana Luzio Alves
- 5 de nov. de 2018
- 3 min de leitura

É cada vez mais comum ouvir falar da importância da estimulação cognitiva em pessoas com demência, principalmente, na doença de Alzheimer. Mas sendo a demência irreversível, será mesmo assim?
Segundo múltiplos investigadores, a estimulação cognitiva proporciona às pessoas com demência atividades destinadas a estimular o pensamento, a memória e a interação social, a fim de retardar o agravamento dos sintomas de demência. Em 2011, no Relatório Mundial de Alzheimer (da Alzheimer Disease International) é recomendado que a estimulação cognitiva fosse proporcionada de forma rotineira a pessoas com demência, o mais precocemente possível.
Alguns sistemas ou modelos de estimulação cognitiva foram estruturados, planeados e testados com tanto sucesso que, inclusivamente, são considerados tratamentos, como é o caso da Estimulação Cognitiva Terapêutica (ECT) (desenvolvida na University College London pela Doutora Aimee Spector e colegas), devido à eficácia obtida.
O que é a ECT?
A ECT proporciona uma variedade de atividades agradáveis que fornecem estímulo geral para o pensamento, concentração, memória, linguagem, humor e qualidade de vida, num pequeno grupo. Apresenta uma melhoria geral do funcionamento cognitivo e é socialmente estimulante, promovendo o desenvolvimento de relações entre os membros do grupo.
A ECT é uma terapia não-farmacológica, ou seja, é uma intervenção terapêutica que, assim como um fármaco, tem um resultado terapêutico, é teoricamente sustentada, focalizada e replicável e capaz de obter benefícios relevantes. Tem por por base métodos científicos e oferece resultados previsíveis. Esta terapia é dirigida a pessoas com demência em fase inicial a moderada, ou com transtorno neurocognitivo leve (declínio cognitivo ligeiro).
Quais são os benefícios?
Diversos estudos científicos verificaram que os resultados da aplicação do tratamento trazem benefícios tanto para pacientes como para os seus cuidadores.
Para os participantes, as melhorias ocorrem ao nível de:
Orientação
Linguagem
Habilidades visuoespaciais
Facilidade em encontrar palavras
Compreensão
Concentração
Nomeação
Bom humor
Autoconfiança
Qualidade de vida
Para os cuidadores, os benefícios verificam-se através da melhoria da sua própria qualidade de vida.
A ECT é o modelo de estimulação cognitiva que demonstrou mais benefícios até ao presente e é aplicada em mais de 24 países, sendo que o Reino Unido é o país onde a terapia é aplicada há mais tempo: desde 2006 pelas estruturas residenciais para idosos públicas e público-privadas.
Como funciona?
O programa de estimulação cognitiva terapêutica deve ser realizado com grupos de cinco a oito pessoas, ou em formato individual. Consiste em sessões de 45 minutos, realizadas duas vezes por semana.
Os intervenientes participam em várias tarefas e atividades com temas diversificados: jogos físicos; som; infância; comida; assuntos atuais; rostos / cenas; associação de palavras; ser criativo; categorização de objetos; orientação; utilização de dinheiro; jogos de números; jogos de palavras; e questionários em equipa. Existe um conjunto de sessões estruturadas e compostas por diversas fases como aquecimento, atividade principal e encerramento, que estão projetadas para alcançar objetivos concretos. Estes, vão ao encontro das necessidades encontradas no momento de avaliação e desenvolvem as capacidades que ainda se mantêm, adiando a sua perda.
“Quem recebeu intervenções de estimulação cognitiva teve uma pontuação significativamente mais elevada nos testes de avaliação das funções cognitivas, os quais medem melhorias na memória e no pensamento. Além disso, verificaram-se efeitos positivos na interação social, capacidade de comunicação e qualidade de vida ou bem-estar. Os benefícios foram também identificados e descritos pelos cuidadores” refere Bob Woods um dos autores da terapia.
O que podemos esperar da ECT?
- Melhoria das capacidades da linguagem, funcionais e sociais
- Utilização de música, imagens, aromas e sabores
- Melhoria do funcionamento cognitivo
- Aumento do bem-estar
- Sentido de diversão e partilha
- O artigo continuaapós as referências bibliográficas -
Referências bibliográficas:
- Aguirre, E., Spector, A., Hoe, J., et al. (2010). Maintenance Cognitive Stimulation Therapy (CST) for dementia: A single-blind, multi-centre, randomized controlled trial of Maintenance CST vs. CST for dementia. Trials, 11(1). Disponível em: https://trialsjournal.biomedcentral.com/articles/10.1186/1745-6215-11-46
- Comas-Herrera, A & Knapp, A. (2016). Cognitive Stimulation Therapy (CST): summary of evidence on cost-effectiveness[PDF]. Disponível em https://www.england.nhs.uk/publication/cognitive-stimulation-therapy-cst-summary-of-evidence-on-cost-effectiveness/
- Prince, M, Bryce, R. & Ferri, C.(2011). World Alzheimer Report 2011: The benefits of early diagnosis and intervention. Londres, Reino Unido: Alzheimer’s Disease International.
Woods, B., Spector, AE, Prendergast, L, & Orrell, M. (2012).Cognitive stimulation to improve cognitive functioning in people with dementia. The Cochrane Review, 15(2), 1465-1858.
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Eu realizo sessões de Estimulação Cognitiva Terapêutica desde o início de 2016, em estruturas residenciais para idosos (lares para idosos) e centros clínicos. Se está interessada em obter mais informações sobre a ECT ou outros modelos de estimulação para pessoas com problemas de memória, sinta-se à vontade para me telefonar ou enviar um e-mail.
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